O Projeto Bichos do Pantanal observa constantemente as onças-pintadas do Pantanal de Cáceres, com o apoio de câmeras escondidas nas matas (Câmeras Trap), com o objetivo de ajudar a desvendar o mistério sobre como realmente vivem as onças-pintadas do Pantanal. O ecólogo Douglas Tren tem cerca de 47 animais mapeados na região do Alto Pantanal, no Pantanal de Cáceres.
As notícias sobre o impressionante número de onças-pintadas no Pantanal de Cáceres, à 200 quilômetros da capital do Mato Grosso, foram o atrativo para o interesse de Douglas Trent na região, o que o levou a criar, em 2013, o Projeto Bichos do Pantanal, em parceria com a especialista em sustentabilidade Jussara Ustch.
“Fui visitar a área próxima a Estação Ecológica de Taiamã, às margens do rio Paraguai, e fiquei maravilhado com o número de onças que vi. Virou o meu novo ponto para trabalhar com o ecoturismo, minha primeira atividade ali”, conta Trent.
Na época, em 2005, os rumores da população local falavam de uma superpopulação de onças na região, porém ninguém acreditava que os animais pudessem atacar um ser humano. “Passei novamente a ter contato com a população local, no caso, os pescadores tradicionais, até que um acidente terrível me fez desejar pesquisar melhor a área, dessa vez como ecólogo”, diz Trent.
Em 2008, Alex Lara da Silva, de 21 anos, um pescador de iscas foi devorado por uma onça-pintada enquanto acampava em um barranco de rio com o seu pai, Alonso Silva. A brutalidade do ataque reforçou o mito da superpopulação de animais e trouxe uma onda de desconfiança em relação a segurança de se viver em uma região repleta de felinos.
Chocado pelo acidente e preocupado com a preservação das onças, Trent decidiu transformar sua observação e registros em uma pesquisa de ecologia das onças. “Passei a registrar os pontos de visualização com um GPS e usei a metodologia de identificação por pintas, que já era uma forma de pesquisa usada no estudo dos primatas muriquis e das baleias jubartes”, explica.
O método consiste em tirar fotografias das cabeças das onças e pelo padrão de pintas frontais se faz o reconhecimento do animal. Desde 2009, Douglas já registrou mais de 47 animais diferentes em uma área de 300 quilômetros quadrados. Um número surpreendente, considerando que o território de uma onça pode ser de até 70 quilômetros quadrados.
Sensibilizado pela realidade da região, Trent percebeu que novamente para salvar as onças de Cáceres ele deveria também trabalhar com o homem, principalmente a população tradicional. Essa paixão pelos felinos e o homem pantaneiro são as sementes do Projeto Bichos do Pantanal, coordenado pelo Instituto Sustentar.
O projeto busca além de dar andamento nas pesquisas com as onças-pintadas, para se compreender o comportamento dos animais na região, também incluir a população cacerense em ações de educação ambiental e geração de renda, principalmente junto aos povos tradicionais da região, como os pescadores. “Não tem como propor a preservação de um animal como a onça-pintada, sem incluir o ser humano nessa ação. No fundo tudo está interligado, a pesquisa, a educação ambiental e a conservação da onças-pintadas e de toda a fauna do Pantanal”, diz.
Trent visita mensalmente a área de estudo no barco-sede do programa, que além de estudar as onças é base para as pesquisas com ictiofauana (peixes), aves e os mustelídeos, como as ariranhas e as lontras.
Os estudos ocorrem em parceira com a Universidade do Kansas, no EUA, e as instituições locais como a Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICmbio).
O ecólogo hoje descarta a possibilidade de que exista uma superpopulação de onças na região, apesar dos intensos registros de novos indivíduos. “O que já podemos afirmar é que a área é uma região de passagem desses animais. As razões dessa atração das onças pelas praias do rio Paraguai podem ser diversas, como a oferta de comida, que no caso são as capivaras . Agora, certezas absolutas só vamos ter com as pesquisas a longo prazo”. Até lá, Trent pretende continuar ajudando a preservar os bichos do Pantanal.
O pacu, um das mais cobiçadas espécies comerciais de peixes do Pantanal. A espécie da família dos caracídeos, se alimenta de frutos e é um dos mais importante dispersor de sementes desse ecossistema e o responsável por semear espécies vegetais por grande parte da bacia hidrográfica do Paraguai-Paraná.